Profissionais de Valor – Clube do Bordado

Hoje a série Profissionais de Valor tem o prazer de receber o Clube do Bordado, coletivo composto por seis sócias-bordadeiras que criam ilustrações e bordados contemporâneos, promovem encontros e dão cursos e oficinas pelo Brasil e pela Europa. Além dos produtos diretamente relacionados ao bordado, também criam conteúdo, vídeos e ações que resgatam o valor dos trabalhos manuais com uma base de atuação online, usando as redes sociais para ampliar o conhecimento e a troca de saberes, abrindo caminhos para a educação e o empoderamento.

O coletivo foi representado nessa entrevista por Amanda Zacarkim, sócia-bordadeira do Clube do Bordado e mestre em Indústrias Criativas pela Radboud University, na Holanda.

1- Amanda, primeiramente gostaríamos de agradecer por conversar conosco. Para iniciar, gostaríamos de saber o que o artesanato significa para vocês.

A essência do artesanato está num fazer que demanda tempo, atenção e que geralmente conta com o talento de cada pessoa e com a maestria do trabalho manual. Assim, vemos o artesanato não só como um ofício mas como uma fonte de inspiração para repensarmos a relação com o trabalho e com nossa expressão pessoal. Um exemplo disso é que o bordado livre, que nos últimos anos tem sido cada vez mais celebrado, pode ser visto como uma fonte de renda para pequenas artesãs pelo Brasil, mas os relatos que recebemos para o projeto Gente que Borda mostram que a questão é mais profunda, já que muitas pessoas encontraram no fazer com as mãos uma forma de se expressar criativamente, de superar crises de ansiedade e de se reinventar profissionalmente. Por tudo isso, nós celebramos o artesanato e queremos cada vez mais derrubar as barreiras que separam o artesanato das chamadas belas artes. Inclusive temos um vídeo no nosso canal sobre esse assunto para quem quiser entender um pouco mais dos motivos históricos e culturais por trás dessa divisão entre arte e artesanato.

2- Vocês sentem que estamos passando por um momento de valorização do artesanato? O que vocês acham que causou isso?

Sentimos e estamos muito felizes em fazer parte deste momento! Nós temos alguns palpites, mas é difícil delimitar uma causa, né? Um desses palpites é que, com as muitas horas que passamos em ambientes virtuais na frente de telas e touch screens, há uma tendência forte a “voltar” ao que é simples, tátil e que pode proporcionar a (prazerosa) sensação de fazer algo – em vez de apenas dar likes, clicar, ou comprar. Nós mesmas do Clube passamos a nos encontrar semanalmente para bordar como uma forma de aprender algo novo e palpável, e também com a boa desculpa de nos encontrarmos no meio da rotina atarefada de São Paulo.

3- Os bordados de vocês possuem design moderno e abordam questões como o feminismo. Qual a importância de inovar, mesmo numa atividade tão antiga quanto essa?

padrim,julho,13 — Foto por Clube do Bordado

A inovação no bordado e nas nossas ilustrações, produtos e workshops acontece para refletir quem somos, o nosso tempo e nossa visão de mundo. Acho que o bordado não teria se destacado entre as técnicas manuais e na arte têxtil se continuasse sendo usado apenas como mais um elemento decorativo. Num momento de mulheres cada vez mais conscientes de seu papel na sociedade, unidas e empoderadas, o bordado, crochê e tricô acabam sendo usados naturalmente para passar essa mensagem, afinal são feitos por essas mulheres. Nós temos orgulho de falar de feminismo sem deixar de lado a feminilidade no nosso trabalho, e temos a alegria de assim conseguir levar mensagens feministas a mulheres de muitas idades diferentes, que acabam influenciadas pela estética mas também pelas ideias de valorização do trabalho artesanal, que, olha só que coincidência, é majoritariamente feito por mulheres. 😉

4- Vocês não têm medo de ensinar o que sabem e ter mais “concorrência”. Como encaram essa questão?

A gente encara essa questão como um “problema bom”: quanto mais pessoas fazem nossos cursos ou aprendem tudo sobre bordado no nosso canal do Youtube, mais marcas são criadas e mais o artesanato e o bordado ganha espaço por aí. Mais mulheres passam a complementar renda ou mudam completamente de profissão para fazer algo criativo que as realiza, assim como aconteceu com a gente. E, quanto mais bordadeiras e bordadeiros por aí, mais esse mercado se profissionaliza, dando espaço para novas empreendedoras, novas ideias e para que se cobrem preços mais justos por cada trabalho manual, que respeitem as horas gastas desde a criação da ilustração até a execução de cada bordado. Na verdade nós incentivamos cada vez mais as pequenas marcas e inclusive criamos um produto novo para essa demanda, que é o nosso plano de assinaturas: As pessoas pagam uma mensalidade para receber todo mês ilustrações exclusivas para bordar e vender como quiserem, o uso é completamente livre! Isso ajuda bordadeiras que amam o que fazem mas que nem sempre tem facilidade para desenhar e criar os próprios riscos.

5- Deem uma dica para quem quer entregar valor por meio do artesanato.

Minha dica pessoal é fazer com amor e se “presentear”com suas primeiras criações, para entender o que te realiza criativamente e quais os caminhos que você está disposta a percorrer. Um exemplo disso é que no começo do Clube nós criamos muitos bordados que reproduzimos depois por encomenda. Já chegamos a bordar 40 vezes o mesmo desenho! E assim descobrimos que fazer a mesma coisa várias vezes não nos realizava, e mudamos a estratégia para que os clientes recebessem algo personalizado e para que nós também tivéssemos o desafio de criar ilustrações e bordados exclusivos a cada encomenda. Também temos muitas dicas sobre empreendedorismo criativo e precificação de produtos no nosso canal do Youtube que são interessantes tanto para bordadeiras iniciantes como para quem já trabalha com artesanato. 🙂